segunda-feira, 2 de maio de 2011

303

Imaginar faz bem, sonhar é ótimo, mas viver somente nisso é maléfico e aquilo me sufocava, eu precisava de uma dose de realidade naquele mar de devaneios. Umas duas mudas de roupa, uns pares de cenas idealizadas, escova de dente e passagens, tudo na mochila, mas alguma coisa pesava naquela pequena bagagem de fim de semana, não cabia minha razão, que acabou ficando em algum lugar em meio à bagunça do meu quarto.

Parti ao encontro da minha suposta felicidade, tinha medo e excitação, receio e vontade, tudo misturado naquele primeiro rosto que vi assim que cruzei o portão de desembarque. Um abraço tímido como esperado, um cheiro que, de certa forma não-sei-como, me parecia bastante familiar, olhares cruzados repentinos, mãos que insistiam em se encontrar, poucas palavras, estas não eram mais tão necessárias assim, enfim... Depois de algumas horas eu sabia (sentia) que tinha a faca e o queijo, mas eu queria outra coisa, eu queria mais, eu queria tudo, foi quando me deparei com a porta que me levaria a tudo aquilo que um dia eu ousei desejar, e eu tinha uma chave nas mãos, bom, elas se encaixavam, tinham muito em comum, mas a gente tinha mais.

Algo me dizia que naqueles poucos metros quadrados eu viveria um mundo inteiro de emoções, acontecimentos para ser lembrado, comentado, compartilhado, um sentimento que devia ser devidamente plantado, cultivado e mais uma vez minha intuição não foi falha, poucos segundos foram muito e enfim nossos lábios, que eram separados pelo tempo e distância, se encontraram, um ideal realizado, bem mais do que o estimado, um beijo único, singular, foi o primeiro beijo, mas com a sensação de que já tivéssemos nos beijado a vida inteira, não sabia se era bom ou ruim sentir isso, afinal aquilo me causava medo, ainda era um desconhecido, um novo, mas aquela sensação, aquele beijo disse muito, eu me sentia plena, completa, era maior do que eu esperava. Eu tinha tanto para dar e bem mais a receber.


[...]



Foram tantas palavras, sorrisos, risadas, carinhos, beijos... Muitos olhares, sabores, cheiros, toques, estalidos... Pouca luz, roupa, vergonha, celular, computador... Um quarto pequeno, uma cama enorme, duas almas gigantes, dois dias que aparentaram horas, horas que insistiam em passar de forma rápida e constante, sem pena daquele amor que a cada ato ganhava mais vida, como um gato, mas o nosso tinha mais, tinha nove vidas, quase dez só pra garantir que não irá morrer tão cedo.

E de tudo que aconteceu, das coisas que a gente viveu, dos dias escuros daquele quarto e das noites mal dormidas, porém bem aproveitadas, daquele ‘eu te amo’ inconsciente, do medo de um súbito desaparecimento, da imagem no espelho para recordar, da despedida, enfim... de tudo isso, ficam minhas lembranças mais felizes, meus sentimentos mais puros e meu desejo mais íntimo de ter tudo aquilo pra sempre e mais um dia.

Nós construímos um mundo e ainda temos o universo inteiro pela frente.

4 comentários:

  1. Sem querer desmerecer os seus outros textos, mas esse aqui está lindo como ainda não tinha visto.

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  2. É muito amor mesmo viu.
    303, quem diria?
    quem?
    Aconteceu, cada palavra aqui dita, rodei em minha mente cenas, gestos, momentos, sentir o que quer repassar, eu vi, eu sei, eu entendo, eu fico totalmente feliz, por vocês.
    "Nós construimos um mundo e ainda temos o universo pela frente" é o que eu mais desejo a vocês, todo o tempo que for. "Que seja eterno enquanto dure, e que dure para sempre." é o mais sensato a se pensar, se bem que, a sensatez as vezes chega a ser chata.
    Porque não fazer loucuras? e que loucura hein, ainda me pergunto, onde foi parar o teu juízo.
    Eu posso sentir esse amor, e ele nem é meu.

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  3. E quando a gente acha que não tem mais o que dizer, vem nosso coração e transborda nas linhas aquilo que ficou no nosso olhar, nessas borboletas azuis aí da foto - que me matam de saudade. Não irei dizer que texto é lindo, porque de certa forma, estaria me confrontando com o real significado deste. Digo, que Sentimento LINDO! Te amo preta, muito! Espero te ver em Breve.

    como sempre, num pacto.

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  4. Aparentemente um dia tranqüilo, nem tanto sol, nem tanta chuva, passava calmo, devagar, eu diria até que sua lentidão me passava calma, embora me fizesse consultar a hora de poucos em poucos minutos. Que seu avião tinha partido... Foi o aviso que recebi... Então pensei... A loucura está feita. De uma inquietude só, era o estado o qual me encontrava, nunca conheci tão bem um aeroporto, faltava somente uma hora, mas as coisas só têm graça se forem inesperadas, então o atraso começava a dar seus sinais... Enfim apontou... Linda. Mas então, como devo proceder? Manuais de instruções sumiram nessa hora... Um abraço, sentir o cheiro e não acreditar que minhas mãos tocavam as tão almejadas. E como olhar dentro daqueles olhos? Os que desejei rever, aqueles que me tiraram a paz... Estavam voltando com ela? Tenho certeza que não, ou melhor, trariam a paz ao meu coração e um vendaval em meu corpo, sentimentos e desejos. Também (pres)senti certo. Entrar naquele lar e fazer dele por tão pouco tempo o nosso lar, fazer dele um caixa o qual depositaríamos sentimentos que por noite e noites imaginamos sentir, e que chegada a hora, descobrimos que sublime mesmo era a união do corpo ao desejo, da sede e da boca, do tato e da pele, dos sons inaudíveis ao ouvido atento...
    Contemplar o olhar terno, o sorriso tímido, o tatear das mãos, os afagos... Uma vontade imensurável de fazer com que aquele momento e eternizasse... Sim esse era o desejo, a eternização do momento. Eu(s) te(s) amo(s) freqüentes, assíduos e desesperados, tentando amenizar o medo da despedida, que infelizmente chegava e chegou... Deixar-te partir foi a coisa mais difícil que tive que fazer (só assim percebo o porquê de não ter o feito da primeira vez), te doei o abraço mais ávido, te lancei o olhar mais apaixonado embora a tristeza encobrisse o amor e soltei tuas mãos que agora carregavam minha forma, minha textura e meu cheiro.
    Ver-te ganhando altitude e sumindo em meio aquele infinito azul me afirmou o que senti no dia em que olhei pela primeira vez aqueles olhos, eu não sabia, mas eu te amei, te amo e te amarei por um longo tempo, imensurável, desmedido, acho que você conhece... Pra sempre!

    Ass.: Amor da Loh

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