Imaginar faz bem, sonhar é ótimo, mas viver somente nisso é maléfico e aquilo me sufocava, eu precisava de uma dose de realidade naquele mar de devaneios. Umas duas mudas de roupa, uns pares de cenas idealizadas, escova de dente e passagens, tudo na mochila, mas alguma coisa pesava naquela pequena bagagem de fim de semana, não cabia minha razão, que acabou ficando em algum lugar em meio à bagunça do meu quarto.
Parti ao encontro da minha suposta felicidade, tinha medo e excitação, receio e vontade, tudo misturado naquele primeiro rosto que vi assim que cruzei o portão de desembarque. Um abraço tímido como esperado, um cheiro que, de certa forma não-sei-como, me parecia bastante familiar, olhares cruzados repentinos, mãos que insistiam em se encontrar, poucas palavras, estas não eram mais tão necessárias assim, enfim... Depois de algumas horas eu sabia (sentia) que tinha a faca e o queijo, mas eu queria outra coisa, eu queria mais, eu queria tudo, foi quando me deparei com a porta que me levaria a tudo aquilo que um dia eu ousei desejar, e eu tinha uma chave nas mãos, bom, elas se encaixavam, tinham muito em comum, mas a gente tinha mais.
Algo me dizia que naqueles poucos metros quadrados eu viveria um mundo inteiro de emoções, acontecimentos para ser lembrado, comentado, compartilhado, um sentimento que devia ser devidamente plantado, cultivado e mais uma vez minha intuição não foi falha, poucos segundos foram muito e enfim nossos lábios, que eram separados pelo tempo e distância, se encontraram, um ideal realizado, bem mais do que o estimado, um beijo único, singular, foi o primeiro beijo, mas com a sensação de que já tivéssemos nos beijado a vida inteira, não sabia se era bom ou ruim sentir isso, afinal aquilo me causava medo, ainda era um desconhecido, um novo, mas aquela sensação, aquele beijo disse muito, eu me sentia plena, completa, era maior do que eu esperava. Eu tinha tanto para dar e bem mais a receber.
[...]
Foram tantas palavras, sorrisos, risadas, carinhos, beijos... Muitos olhares, sabores, cheiros, toques, estalidos... Pouca luz, roupa, vergonha, celular, computador... Um quarto pequeno, uma cama enorme, duas almas gigantes, dois dias que aparentaram horas, horas que insistiam em passar de forma rápida e constante, sem pena daquele amor que a cada ato ganhava mais vida, como um gato, mas o nosso tinha mais, tinha nove vidas, quase dez só pra garantir que não irá morrer tão cedo.
E de tudo que aconteceu, das coisas que a gente viveu, dos dias escuros daquele quarto e das noites mal dormidas, porém bem aproveitadas, daquele ‘eu te amo’ inconsciente, do medo de um súbito desaparecimento, da imagem no espelho para recordar, da despedida, enfim... de tudo isso, ficam minhas lembranças mais felizes, meus sentimentos mais puros e meu desejo mais íntimo de ter tudo aquilo pra sempre e mais um dia.
Nós construímos um mundo e ainda temos o universo inteiro pela frente.